Plantas exóticas invasoras

Por AE Digital

19 de janeiro de 2021

O problema das plantas exóticas invasoras

Plantas exóticas invasoras são um enorme problema para a Conservação da Biodiversidade.

Portanto, não é a toa que diversas espécies do planeta estão desaparecendo por causa da introdução de espécies exóticas, através de um processo chamado invasão biológica.

A invasão biológica ameaça a sobrevivência de espécies nativas e o funcionamento dos ambientes naturais.

Além disso, esses riscos podem afetar até mesmo a saúde e o bem estar das pessoas, uma vez que:

  • Afetam serviços ambientais;
  • Podem prejudicar a economia;
  • Comprometem o patrimônio natural e genético.

Mas afinal, o que é uma espécie exótica invasora?

Por definição, espécie exótica é aquela que está fora de sua área de distribuição original, geralmente após sua introdução no ambiente pelo Homem.

Essa espécie pode se tornar invasora quando sua introdução, reprodução e dispersão se tornam uma ameaça à diversidade biológica nativa.

Portanto, nem toda espécie exótica é invasora.

Porém, a invasão sempre começa com a introdução de uma espécie exótica, que se estabelece e quebra uma barreira ambiental.

Isso significa que ela se adapta bem às novas condições e começa a se proliferar descontroladamente.

Neste texto, vamos falar um pouco sobre alguns desses casos.

As espécies invasoras no Brasil

No Brasil, já foram identificadas pelo menos 365 espécies exóticas potencialmente invasoras segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Entre elas, 46% são plantas e 54% são animais.

Entre as plantas, 146 espécies são terrestres, três são plantas marinhas e apenas uma é de água doce.

As formas que essas plantas teriam chegado e se dispersado pelo território nacional são as mais variadas possíveis.

Desde a importação de espécies para paisagismo até pelo transporte acidental de resíduos de poda de jardins.

O que todas elas tem em comum, entretanto, é a influência humana.

Pássaro comendo frutos de capim exótico

Coleirinho (Sporophila caerulescens), espécie nativa, se alimentando dos frutos de um capim exótico (Foto: Daniel Perrella).

A história das plantas exóticas no Brasil

A invasão de plantas exóticas no Brasil é um problema que afeta nossa biodiversidade há muito tempo.

Porém, foi um problema deixado de lado por anos.

Tanto pelas instituições de pesquisa, quanto por aquelas que trabalham com a conservação do meio ambiente.

Apenas na década de 1980, pesquisadores e conservacionistas começaram a dar mais atenção aos problemas provocados pelas espécies invasoras.

Como parte dessa comunidade científica, temos a Dra. Vânia Pivello, hoje professora de Ecologia da USP e uma das pioneiras nos estudos com plantas exóticas invasoras no Brasil.

Ela nos passou um pouco de sua enorme experiência no assunto durante o 29º Encontro Ambiental, promovido pela Brasil Bioma e intitulado “O que são espécies exóticas invasoras e como controlá-las?“.

Capins exóticos

A professora Vânia começou sua carreira trabalhando com capins africanos introduzidos no Brasil.

Hoje, reconhecemos três principais espécies considerados os principais capins invasores em território nacional:

  • Capim-gordura (Melinis minutiflora);
  • Braquiaria (Urochloa decubens);
  • Capim-gamba (Andropogon gayanus)

Algumas dessas espécies foram trazidas ao Brasil para serem utilizadas em pastos e servirem de alimento para o gado.

Porém, esse não é o caso de todas as espécies.

O capim-gordura, por exemplo, chegou acidentalmente em navios vindos do continente Africano.

O capim servia para fazer “colchões” nos navios e o fato de suas sementes grudarem em roupas e outros tecidos, possibilitou seu transporte para terra firme.

O principal problema da introdução dessas plantas é seu desenvolvimento agressivo em ambientes naturais.

Os capins Andropogon e as diversas espécies de braquiárias, como U. decunbens e U. brizantha, estão entre as mais perigosas plantas exóticas invadindo Cerrado brasileiro.

Isso porque eles absorvem muitos recursos do solo, se reproduzem e se desenvolvem rapidamente, vencendo a competição com gramíneas nativas.

Para piorar, as braquiárias produzem substancias que inibem o desenvolvimento de outras espécies de plantas.

Essas substancias recebem o nome de “alelopáticas” na Botânica.

Fazem isso inclusive quando ainda estão em fase de semente.

E graças a essas substancias, esses capins matam e tomam o lugar das espécies nativas e proliferam descontroladamente nos ambientes naturais brasileiros.

Os pinheiros

Os pinheiros (Pinus spp.) estão entre as plantas invasoras mais comuns do Brasil.

Originários do Hemisfério Norte, os pinheiros são árvores que germinam e crescem rápido, principalmente em áreas abertas, onde há abundancia de luz.

Essa espécie foi trazida para o Brasil tanto para uso no paisagismo de jardins e parques, quanto para o uso em reflorestamentos.

Devido às suas características de desenvolvimento, pinheiros são árvores interessantes para o tipo de plantio que visa a extração de madeira para comercialização.

Além disso, a resina extraída de seu tronco também tem várias aplicabilidades no mercado.

O problema é que a dispersão de sementes de pinheiros pelo vento, tem a característica de ser muito eficiente quando se trata de encontrar novos lugares para se estabelecer.

Dessa forma, essas plantas alcançam com facilidade os ecossistemas nativos presentes nos arredores de onde foram plantadas e lá começam a se desenvolver para então reproduzir novamente.

Crescendo em ambientes abertos como campos naturais, essas árvores começam a sombrear as plantas nativas menores, como gramíneas e arbustos, comprometendo seu desenvolvimento.

Além disso, elas também competem com as árvores nativas por recursos do solo .

Inclusive, as folhas dos pinheiros também produzem substancias alelopáticas no solo quando caem no chão, inibindo o desenvolvimento de arbustos e árvores nativas, assim como fazem as braquiárias citadas acima.

Um exemplo na Mata Atlântica

Atualmente, a invasão de pinheiros é tão agressiva e problemática que diversas Unidades de Conservação (U.C.s) brasileiras tem problemas com eles.

Um exemplo disso é o Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, única U.C. da Mata Atlântica a abrigar remanescentes de Campos Nebulares, formações vegetais naturais que possuem uma fauna e flora muito peculiares dentro do Bioma.

E são justamente esses campos nebulares que são ameaçados pelos pinheiros exóticos.

Quando os pinheiros crescem e se tornam árvores, eles sombreiam as plantas nativas ao redor e roubam nutrientes do solo.

Como essas plantas nativas são principalmente arbustos e gramíneas, têm desvantagem nessa competição e seu desenvolvimento fica comprometido.

Como há plantas que são características apenas desse tipo de formação vegetal, que por sua vez é raro na Mata Atlântica, essa perda de biodiversidade torna-se ainda mais grave.

Campo nativo com invasão por Pinus

Campos de altitude no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar invadido por Pinus sp (Foto: Daniel Perrella).

A palmeira-australiana

Outra espécie exótica considerada invasora no Brasil é a palmeira-australiana (Archantophoenix cunninghamiana).

Trata-se de uma palmeira da Família Arecaceae que pode atingir de 15 a 20 m de altura e é nativa da Austrália, como seu próprio nome já diz.

Inicialmente, a espécie para o Brasil pelo seu potencial paisagístico, uma vez que se desenvolve bem em jardins e calçadas, possui crescimento rápido e é muito vistosa.

Dessa forma, a espécie foi cultivada com abundância e hoje é extremamente comum em parques e jardins.

A palmeira-australiana, além de crescer bem mais rápido que palmeiras nativas e ter maior plasticidade em relação ao tipo de ambiente onde pode se desenvolver, também produz centenas de frutos vermelhos e esféricos, muito atrativos para pássaros.

Aves estão entre as principais dispersoras de sementes de palmeiras nativas, como o palmito-juçara (Euterpe edulis), espécie ameaçada de extinção e nativa da Mata Atlântica.

Por causa da enorme disponibilidade de frutos e maior abundância de palmeiras-australianas, as aves nativas acabam consumindo muito mais seus frutos.

Dessa forma, além de dispersarem as sementes da espécie exótica e colaborarem com sua proliferação, espécies nativas como o palmito-juçara acabam sendo prejudicados quanto à disponibilidade de agentes dispersores que consumiriam seus frutos.

Pássaro comendo frutos exóticos

Sabiá-do-campo (Mimus saturninus), espécie nativa, se alimentando dos frutos da palmeira-australiana (Foto: Bruna Gagetti).

Controle biológico de plantas exóticas invasoras

Além dos problemas iminentes trazidos pela invasão de espécies exóticas, a preocupação seguinte é como fazer para controlar essas espécies.

Geralmente, a melhor alternativa é a erradicação de toda a população da espécie exótica.

Existem vários métodos possíveis para atingir esse objetivo com plantas, inclusive a retirada manual dos indivíduos.

Porém, essa é uma tarefa complicada, principalmente se a espécie estiver introduzida a muito tempo.

Plantas invasoras são particularmente difíceis de eliminar porque geralmente são organismos resistentes,  com sistemas de dispersão de sementes eficientes e desenvolvimento rápido.

Por essa razão, existem outras abordagens de manejo que podemos adotar em casos onde a erradicação é inviável.

A contenção das espécies invasoras é uma delas.

Esse método exige muito planejamento e tempo, consistindo em aplicar formas de impedir que a planta se disperse mais ainda no ambiente.

A ideia é restringir sua distribuição a poucos locais e conter sua proliferação, de forma que ela pare de se espalhar em ambientes naturais.

Porém, quando a espécie exótica além de bem estabelecida, também já está espalhada demais para ser contida, resta a opção do manejo de longo prazo.

O manejo de longo prazo consiste em tentar controlar a situação de espécies exóticas invasoras sem grandes pretensões de resolver o problema.

O grande objetivo dessa última abordagem é o controle constante da população invasora para evitar que ambientes sejam prejudicados por inteiro e que espécies nativas sejam perdidas.

Devemos  agir para combater espécies invasoras independentemente da abordagem, e isso geralmente requer um grande investimento de recursos.

Porém, a demora para tomar alguma providência pode tornar o problema ainda mais trabalhoso e caro de se resolver.

Por outro lado, a falta de ações pode significar a extinção de espécies nativas, desequilíbrio nos ambientes naturais e até repercussões negativas para a economia.

Espécies exóticas invasoras e a Consultoria Ambiental

Saber identificar espécies exóticas em campo é uma dificuldade adicional para o profissional que trabalha com Consultoria Ambiental.

Isso porque geralmente nos especializamos a trabalhar com espécies nativas, que podemos encontrar naturalmente nas áreas de estudo.

Porém, saber reconhecer as espécies exóticas é primordial justamente para reconhecer plantas que podem estar invadindo uma nova área.

Além disso, diversas vezes realizamos trabalhos de Consultoria Ambiental em áreas já muito alteradas pelo Homem ou mesmo áreas urbanas.

Dessa forma, é comum haver plantas exóticas de uso em jardinagem, paisagismo e arborização, que precisam ser identificadas corretamente também.

Por outro lado, a presença de espécies exóticas pode revelar um problema em potencial de conservação em uma área de vegetação nativa, como uma Unidade de Conservação por exemplo.

Pior ainda, pode ser uma espécie recém introduzida com grande potencial de se tornar invasora.

Nesse caso, a prévia identificação e monitoramento da população de uma planta exótica invasora possibilita a elaboração de estratégias de controle dessa espécie, antes que ela se torne um problema maior.

Percebe como o apoio de profissionais bem capacitados e preparados pode fazer toda a diferença em um Estudo Ambiental? O consultor ambiental apto a identificar plantas exóticas e reconhecer o potencial invasivo de uma espécie pode ser o diferencial para assegurar que sejam tomadas as melhores medidas e conclusões sobre o manejo de uma determinada área.

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