Monitoramento Ambiental e os Saguis invasores

Por AE Digital

20 de outubro de 2020

O que é Monitoramento Ambiental?

Podemos dizer que monitoramento ambiental é basicamente uma série de inventários da flora ou fauna, realizados com objetivo de conhecer a biodiversidade de um local e avaliá-la se modifica ao longo do tempo.

Primeiramente, é importante entender que é impossível conhecer completamente todos os elementos da biodiversidade de uma área, principalmente em regiões tão complexas como os biomas tropicais.

Por essa razão, aplica-se nesses estudos algo chamado amostragem.

Para realizar uma amostragem de flora ou fauna, existem métodos específicos de inventário e de  monitoramento que permitem aos profissionais da área ambiental avaliar os diferentes aspectos da biodiversidade local que represente de forma satisfatória sua totalidade.

Porém, esses trabalhos exigem muitas horas de campo e um conhecimento razoável sobre identificação, taxonomia e ecologia dos grupos que serão amostrados.

Por isso, é importante que os profissionais ao realizarem esse tipo de levantamento ou monitoramento ambiental sejam altamente qualificados e especialistas em suas áreas de atuação.

Isso garante resultados mais refinados e confiáveis.

Ademais, a necessidade desse conhecimento torna-se ainda mais relevante quando falamos em trabalhos realizados nos Biomas tropicais megadiversos que existem no Brasil, como:

Nos serviços de consultoria fornecidos pela Geonoma, sempre buscamos a melhor qualidade possível, seja em campo, nas análises dos resultados ou na entrega do produto final.

Entre as principais áreas de conhecimento envolvidas diretamente nos serviços de monitoramento ambiental, podemos destacar as seguintes:

  • Botânica;
  • Ornitologia;
  • Herpetologia;
  • Ictiologia;
  • Mastozoologia;
  • Educação Ambiental;
  • Geoprocessamento;
  • Gestão de resíduos;

Portanto, quando falamos em inventários de flora ou fauna, nos referimos à forma mais direta e eficaz para se conhecer parte da biodiversidade de uma determinada localidade. Entretanto, para incluir o fator tempo nesse conhecimento, é necessário realizar paralelamente estudos de monitoramento ambiental.

Trabalho de monitoramento ambiental

Estudo de monitoramento florestal realizado pela equipe da Geonoma.

A importância do monitoramento ao longo do tempo

De maneira geral o monitoramento ambiental demanda o mesmo conhecimento que é necessário para um Inventário de espécies.

Entretanto, a principal diferença entre os dois, como já foi dito, é a escala de tempo ao longo das amostragens.

Enquanto o inventário faz um retrato fixo da riqueza e diversidade de organismos em uma determinada área, ou seja, em uma escala de tempo restrita, o monitoramento prolonga esse processo.

Nesse sentido, o monitoramento ambiental oferece vários retratos da composição de espécies em uma mesma área ao longo de um intervalo de tempo.

Os intervalos em que as amostragens devem ser retomadas pelos profissionais podem variar muito dependendo do objetivo do estudo.

Tais amostragens podem ter intervalos de:

  • Dias;
  • Meses;
  • Anos;
  • Combinações dos itens anteriores.

Esses estudos podem trazer várias vantagens do ponto de vista científico e conservacionista, pois permitem acessar e compreender um pouco da dinâmica dos ecossistemas.

A composição de espécies da fauna e flora, bem como suas populações, estão sempre mudando em densidade e diversidade ao longo do tempo.

Isso acontece em todos os ambientes do planeta.

Essas mudanças podem dizer muito sobre o estado de conservação de uma área e refletir a presença de potenciais ameaças.

Por isso é importante que especialistas em diversas áreas do conhecimento relacionados ao meio ambiente sejam capazes de interpretar essas mudanças.

As equipes formadas pela Geonoma são compostas por profissionais capazes de aplicar metodologias adequadas para cada tipo de avaliação ambiental, e os resultados dessas avaliações podem ser usados para responder perguntas associadas à sustentabilidade e manutenção dos processos ecológicos das áreas naturais.

Quais perguntas o monitoramento ambiental pode responder?

Flora

Entre as muitas perguntas que podem ser respondidas com estudos de monitoramento, podemos destacar por exemplo, a avaliação da dinâmica de regeneração da vegetação em um determinado ambiente.

O olhar de um botânico experiente em um estudo de longo prazo, pode dizer se as espécies de plantas que estão crescendo e se desenvolvendo em uma área perturbada fazem parte de estágios de sucessão ecológica que refletem a recuperação daquele ecossistema ou não.

Outra forma de avaliação importante tem relação com a presença de espécies vegetais invasoras em um local, ou seja, espécies que não são nativas e cuja proliferação prejudica negativamente as espécies nativas da região.

O monitoramento ambiental pode oferecer subsídios para verificar se está havendo alguma competição entre plantas exóticas introduzidas e plantas nativas.

Em caso de resposta afirmativa, o monitoramento também pode revelar como e onde o manejo das espécies invasoras é mais urgente, a depender do caso.

Trabalho de monitoramento ambiental

Trabalho de campo durante um estudo de monitoramento ambiental realizado pela Geonoma Florestal.

Fauna

Com relação à fauna, existem outras perguntas que podem ser respondidas também com metodologias referentes ao monitoramento ambiental.

O desaparecimento ou persistência de algumas espécies de animais em uma região, pode revelar para um especialista em fauna, se há pressão de caça predatória no local, o que é proibida por lei.

Além disso, avaliando a interação dos animais com os ambientes onde vivem, é possível dizer se estão conseguindo circular entre fragmentos de floresta divididos em uma paisagem  descontinua.

A resposta dessas perguntas pode ajudar na tomada de medidas para a preservação dessas populações de animais, como, por exemplo, a implementação de passagens de fauna para evitar atropelamentos e promover a conexão entre os fragmentos.

A presença de doenças ou a própria poluição também tendem a alterar a composição de animais e plantas de um local.

Saber determinar e avaliar o que significam as flutuações populacionais de espécies bioindicadoras, também acaba refletindo no bem-estar das próprias pessoas, que direta ou indiretamente compartilham os recursos naturais com esses organismos.

O caso dos saguis híbridos

Recentemente, em um dos projetos de monitoramento ambiental realizados pela Geonoma, nossa equipe se deparou com uma situação que alertou nossos especialistas sobre possíveis problemas ambientais que poderiam estar acontecendo no local estudado.

O estudo em questão vinha sendo realizado com amostragens bimestrais, em uma área particular que abriga remanescentes de Floresta Atlântica no interior de São Paulo.

Durante uma das campanhas, enquanto a equipe registrava um grupo de saguis-de-tufos-pretos (Callithrix penicillata), espécie introduzida na região, foi observado que um dos indivíduos era diferente, apresentando uma pelagem estranha quando comparado aos demais.

Posteriormente, foi verificado que esse indivíduo seria possivelmente um híbrido entre um sagui-de-tufos-pretos e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), espécie nativa e ameaçada de extinção.

A evidencia de que se tratava de um indivíduo híbrido vinha justamente da pelagem do animal, que apresentava caracteres intermediários entre as duas espécies.

Sagui registrado no monitoramentos ambiental

Sagui híbrido observado pela equipe da Geonoma Florestal durante o monitoramento ambiental em uma área no interior de São Paulo.

Saguis invasores documentados durante monitoramento ambiental

Desde o início do monitoramento realizado pela Geonoma, nossa equipe registrava grupos de saguis-de-tufos-pretos na região.

O sagui-de-tufos-pretos é nativo do Brasil, porém não dessa localidade especificamente.

Naturalmente, essa espécie é nativa de áreas de cerrado, com distribuição original nos estados de Tocantins, Goiás, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

Tanto o segui-de-tufos-pretos quanto outra espécie, nativa do nordeste do Brasil, o sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus), tem sido introduzidas em várias regiões do Brasil que não correspondem a suas distribuições originais.

Isso acontece porque esses macaquinhos são capturados em seus ambientes naturais e vendidos pelo tráfico ilegal de animais silvestres para pessoas de vários locais do Brasil.

Pessoas compram ilegalmente saguis provavelmente por serem animais muito carismáticos.

Porém, algum tempo depois da compra, descobrem que esses animais não são apropriados para servirem como “pets”.

Saguis confinados podem ficar estressados e se tornar agressivos quando não há um manejo adequado, chegando a morder e machucar seus mantenedores.

Além disso, são animais que exigem uma dieta balanceada, fazem muita sujeira, barulho e vivem bastante tempo.

Frente a esses “inconvenientes” inesperados, essas pessoas acabam soltando esses saguis em qualquer lugar, introduzindo-os em ambientes onde não são nativos.

Então, sem as adversidades que seus ambientes originais ofereceriam, como predadores, competição e limitações de recursos, esses saguis acabam sobrevivendo e se proliferando descontroladamente.

O problema com isso é que esses animais podem trazer grandes prejuízos para a biodiversidade local.

Entre os principais impactos que podem causar, estão:

  • Predação de ninhos de aves nativas;
  • Competição por recursos com espécies nativas;
  • Transmissão de novas doenças;
  • Gerar híbridos com espécies nativas.

A ameaça aos saguis nativos

No sudeste do Brasil, em regiões pontuais como  o leste do Estado de São Paulo, o pontal do Paranapanema, a bacia do Rio Ribeira do Iguape, além de localidades pontuais no RJ e MG, há uma outra espécie nativa e muito interessante de sagui nativo.

Essa espécie, conhecida como sagui-da-serra-escuro, é endêmica da Mata Atlântica, só vive em áreas florestadas e está classificada como “em perigo” de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Isso significa que as populações desse segui estão sendo preocupantemente reduzidas, a ponto de ser considerado hoje como uma das 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo.

Segundo o ICMBio, a espécie pode ter perdido pelo menos 50% de toda sua população só nos últimos 18 anos.

Os principais motivos para a situação atual de conservação do sagui-da-serra-escuro são a fragmentação de habitats, o recente surto de febre amarela ocorrido em 2017 e a hibridação com saguis introduzidos.

Foi justamente um desses casos de hibridação que foi documentado pela equipe da Geonoma durante o monitoramento.

O principal problema desses cruzamentos entre as espécies de sagui é a perda de diversidade genética sofrida pelo sagui-da-serra-escuro, já tão ameaçado.

Essa situação pode acelerar muito o processo de extinção da espécie, já que há saguis invasores introduzidos em toda sua pontual área de distribuição.

A proliferação acelerada de saguis introduzidos e o aumento de híbridos em tantas áreas naturais, nos mostram que existe um grande risco para a conservação do sagui-da-serra-escuro e esse conhecimento desenvolvido através do monitoramento ambiental é essencial para traçar estratégias para salvar a espécie.

Percebe como contar com o apoio de profissionais bem capacitados e preparados pode fazer toda a diferença no Estudo Ambiental que precisa elaborar?! Saiba mais sobre o trabalho da Geonoma e entre em contato conosco!